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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu acredito no Gir Leiteiro

É comum a discussão, e também legitima, envolvendo a real capacidade do Gir para produção de leite. Confesso que já pensei que a raça não seria capaz de se tornar viável nesse sentido e sim apenas fornecendo genética para formação do gado Girolando.

Ainda acho o Girolando superior neste quesito (leite no balde... e sem bezerro ao pé), mas a análise deve ir além. Não devemos nem podemos analisar apenas leite no balde, a fazenda produz muito mais; temos o bezerro(a) todo ano e nesse caso o Gir agrega muito mais valor. Quanto vale uma bezerra filha de vaca PO com lactação aferida pela ABCZ e classificada como Gir de aptidão leiteira? E se nascer macho, quanto vale um garrote com as mesmas características?

As perguntas acima levantadas são “pano pra manga” e rendem ricas discussões, mas não é esse o ponto que quero debater. O que quero dizer é que após integrar o programa de melhoramento genético da ABCZ (aptidão leiteira), o PMGZ, eu aprendi muito sobre os limites e as qualidades da raça e muitos conceitos foram aos poucos se modificando; hoje, sinceramente eu posso afirmar que acredito no Gir Leiteiro.

Quando eu digo Gir Leiteiro, trata-se da essência e não da política que envolve a nomenclatura. Estou livre de tendências, vertentes ou interesses que envolvem o mérito ou a “paternidade” da função da raça, afinal de contas Gir sempre foi leiteiro e muito antes de nós os indianos já selecionavam esta função. É ai que mora a razão (ao meu ver, é claro).

Muitos criadores de Gir que não utilizam das técnicas disponíveis para aferição dos dados produtivos de seu rebanho, contestam a legitimidade dos resultados obtidos por outros e duvidam do potencial da sua própria raça, e ai está o erro. Darei um breve exemplo: Quando começamos a pesar o leite do gado, tínhamos uma idéia de quais seriam as matrizes mais produtivas. Depois disso, fomos verificando que muito do que se pensava estava errado e isso incluía duração da lactação, temperamento, capacidade de alimentação e conversão e daí em diante... e na medida em que o tempo passava as surpresas (de maioria positivas) foram surgindo e muito aprendemos com isso. Posteriormente vieram as análises laboratoriais do leite, que somaram ainda mais, provando que o Gir além de produtivo em volume de leite, da mesma forma surpreende nos valores de sólidos, gordura, proteína e lactose.

Por fim, temos no Brasil uma variedade enorme de linhagens que podem somar incrivelmente e muitas vezes ficam desperdiçadas por crendices e preconceitos que devem ser deixados para trás. Não quero criticar ninguém, o que tento fazer aqui é salientar que é necessário ceder algumas vezes e reconhecer os méritos conquistados. Acho que houve uma grande mudança nos rumos da raça nos últimos anos e esta mudança deve seguir, antigamente valorizava-se cegamente a caracterização e a pureza racial, esquecendo-se da produtividade, e hoje é o contrário. Penso que ambos os tempos cobriram um lado pra descobrir o outro, e o mercado já dá sinais de que precisa de novo ajuste, seria então o momento de ouro da raça? Em breve chegaremos ao ponto máximo da história do Gir em que finalmente teremos o privilégio de usufruir de uma Era veramente sustentável onde o equilíbrio será tema de todos os processos seletivos? Será enfim valorizado o animal completo? 

Rodrigo Rezende Simões
Fazenda Lapa Vermelha - Gir Bey

9 comentários:

José Luiz disse...

Parabéns pelo seu texto. Acredito no Gir Leiteiro também. Devemos deixar esses preconceitos de lado e nos unirmos em prol da raça.

Ficar criticando o Gir Leiteiro é dar um tiro no próprio pé. Criticar a própria raça que se cria é algo no mínimo paradoxal, para não dizer mais coisa.

O que adianta ter uma raça bonita apenas para ficar admirando. Não serve para nada. Tem que produzir alimento, tem que encher o balde.

A criação do Gir não pode ser como a criação de cavalos.


Um abraço,

José Luiz Costa
sanad766@terra.com.br

A. André L. Pinheiro disse...

Infelizmente, ainda há pessoas que acham que os criadores de gir padrão vivem da beleza de seus animais...

É óbvio que qualquer criador de gir padrão valoriza a aptidão leiteira de seus animais. Será que é tão difícil assim perceber que caracterização racial não implica exclusão da produção leiteira?

Criticar o gir verdadeiro é mesmo um tiro do pé, mas silenciar perante alguns animais que nada possuem do padrão racial é uma rajada de metralhadora no pé...

José Luiz disse...

Em nenhum momento afirmei que deveria ser deixado de lado a caracterização racial. É óbvio que, se criamos Gir, os nossos animais têm que estar no padrão da raça. Se tenho um animal de boa produção leiteira mas com algum desvio de caracterização racial, trato de fazer acasalamento com um touro Leiteiro que corrija esse desvio. Colocar leite é mais difícil que colocar raça.

Hoje em dia temos excelentes animais leiteiros que estão rigorosamente dentro do padrão racial do Gir.
Agora não concordo com algumas posições de criadores de Gir Padrão. Veja o que extraí de um dos blogs do Gir:

"Se o propósito for o leite, forme um plantel de girolando ½ sangue. Se desejar explorar carne, forme um plantel nelore.

“Gir padrão” é para quem pode, conhece e gosta. Não difere muito da criação de cavalos."

Isso não dá. O cidadão cria Gir e recomenda Girolando para leite e Nelore para carne. Isso é que um verdadeiro tiro no pé.

José Luiz Costa

A. André L. Pinheiro disse...

"'Gir padrão' é para quem pode, conhece e gosta. Não difere muito da criação de cavalos."


O que dizer de uma declaração dessas? De fato, algo desse tipo só pode ser dito por quem não entende nada de gir nem de cavalos! Haja paciência... Encerro aqui o que tinha a dizer sobre esse assunto...

Rodrigo Simões disse...

"'Gir padrão' é para quem pode, conhece e gosta. Não difere muito da criação de cavalos."

Essa declaração foi de doer mesmo... mentalidade esta foi responsável pelo declínio da raça.

A essência do meu texto foi justamente dizer: "Eu acredito na aptidão leiteira da raça Gir". Mas como o nome Gir Leiteiro vem carregado de estigmas, há essa dificuldade de interpretação. Fiz de propósito.

Não há que criticar mesmo, devemos reconhecer os méritos do Gir Leiteiro, e nem precisa falar, claro que tem animais que nem Gir são e estão ai com a corda toda.

Mas essa imperfeições existem sempre, não só na nossa raça.Há o interesse político-econômico que muitas vezes supera a razão.

prisma disse...

Rodrigo,

Quero cumprimentá-lo pela ousadia no título de seu artigo. Realmente, ele é provocativo, especialmente considerando o seu autor. Quem ti viu, quem ti vê! A convicção de 20 meses atrás, abalada pelo bom-senso e pela ciência. Cumprimento-lhe, principalmente, pela capacidade de reflexão e pelo nobre gesto de humildade em reconhecer o valor do trabalho de uma entidade (ABCGil) e ou de grupo de criadores, que proporcionou, inegavelmente, avanços à raça GIR.

Repito: Devemos valorizar o indivíduo, independentemente do grupo ao qual ele pertença. Isso vale tanto para as pessoas, quanto para os animais.

Os resultados obtidos pela Lapa Vermelha com o controle leiteiro, bem como os de outros criatórios de Gir Padrão, apenas reforçam a minha velha convicção de que a maior diferença entre a produção leiteira das fêmeas oriundas dos plantéis de “Gir Leiteiro” e as do Gir Padrão, decorre do manejo ao qual, historicamente, cada uma delas foi submetida. Por outro lado, as provas as quais os animais são submetidos (testes de progênies, controle leiteiro, etc.), proporcionam, inegavelmente, maior segurança no ganho genético de características inerentes à produção leiteira, justificando assim, um número proporcionalmente maior de fêmeas mais produtivas, inseridas nos plantéis de “Gir Leiteiro”, em razão de seu pioneirismo no que se refere às diversas modalidades de provas científicas.

Da mesma forma, ocorre com as pessoas envolvidas com os dois grupos: “Leiteiro” e “Dupla Aptidão”. Em ambos, podemos encontrar pessoas bem intencionadas, competentes, elegantes e, de ilibada reputação. Sendo o contrário, também verdadeiro.
Pessoas com caráter duvidoso, inescrupulosas, oportunistas, manipuladoras, etc., estão “infiltradas” por todas as partes.

EQUILÍBRIO – Essa é a palavra “chave”. Tenho dito (escrito) repetidas vezes. As críticas dirigidas às entidades e ou aos grupos de pessoas, de forma irrestrita ou generalizada, são demasiadamente equivocadas.

A sua iniciativa de vir a público fazer tal afirmação deve ser entendida como uma ação agregadora e não provocativa no sentido negativo da palavra.

A união faz a força – positiva e negativa! Uma laranja podre pode prejudicar a reputação de uma caixa inteira. Precisamos identificar as laranjas podres e combatê-las de tal forma a restituir a força de um conjunto harmonioso e capaz de avançar positivamente.

Tenho absoluta convicção de que os resultados do TP da Girgoiás/Embrapa, bem como o controle leiteiro realizado nos plantéis de Gir Padrão irão recolocar essa vertente no “campo de jogo”, onde a mesma será vista e valorizada por todos, inclusive pelo “mercado soberano”.

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” – Caetano Veloso.

Abraços,

Ramilton Javiktson da Silva Rosa
Estância Prisma – Edealina – GO.

prisma disse...

EU ACREDITO NAS LINHAGENS ALTERNATIVAS DO GIR

Sempre respeitei o trabalho realizado pelos colegas do “Gir Leiteiro”, tanto é verdade que tenho animais com esse perfil em meu pequeno criatório. A ABCGil se organizou de tal forma que proporcionou aos seus associados um “norte”. Alguns podem alegar que seria um “norte” que levaria ao leste ou ainda ao oeste. Mas, os progressos alcançados são inegáveis. Cresceram tanto que ousaram criar a expressão “Raça Gir Leiteiro”. Uma “raça” que se fosse criada nasceria com um grande “gargalo”: a endogamia.

Por outro lado, nunca me afastei do “sonho” de poder criar animais que fossem produtivos e ao mesmo tempo apresentassem um conjunto de características morfológicas capaz de enquadrá-los perfeitamente dentro do padrão racial do Gir.

As iniciativas de alguns colegas de avaliar o desempenho econômico (produção de leite) das suas matrizes oriundas de “linhagens alternativas” (incluindo algumas que foram submetidas ao controle leiteiro oficial em minha propriedade – Estância Prisma – Edealina – GO.), bem como o programa de melhoramento genético da GirGoiás, já revelaram excelentes resultados. Esses resultados credenciam, de fato, referidos indivíduos como uma verdadeira alternativa para o tão necessário “refrescamento de sangue” do “Gir Leiteiro”. É claro que devemos esperar os resultados oficiais para confirmar essa afirmação. Isso significa que a raça Gir pode colaborar com a raça Gir!

Precisamos apoiar de forma efetiva esses programas, já implantados, para que possamos, à médio prazo, colher os frutos desse investimento.

Não se trata de estabelecermos uma concorrência entre animais da mesma raça. Ao contrário, estaremos oferecendo ao “mercado” uma ALTERNATIVA. Daí, cada um fazer a sua escolha, de forma segura e transparente. Não tenho dúvidas que obteremos sucesso. Mas, para que possamos lograr êxito, é necessário que continuemos avançando no caminho da ciência.

Se, no prazo de três anos, conseguirmos avaliar de 150 a 200 fêmeas descendentes de touros exclusivamente de “linhagens alternativas” certamente teremos um cenário favorável a nosso favor. Portanto, faço um apelo aos colegas criadores/selecionadores de animais com esse perfil, que submetam os seus animais às diversas provas/testes que estão disponíveis a todos.

A vaca Harpa da Lapa Vermelha alcançou a extraordinária marca de mais de 11.787 KG/leite, em lactação encerrada. Matrizes da fazenda Lapa Vermelha, fazenda Café Velho, fazenda Iporê, fazenda Nossa Senhora das Graças, entre outras, obtiveram excelentes resultados. Se considerarmos o aproveitamento, em números proporcionais, por analogia, podemos concluir que na maioria dos nossos plantéis existem vacas produtivas (leite), e na mesma proporção das já citadas. Alguém duvida?

Outra grande ferramenta que teremos à nossa disposição são as provas de produção de leite a pasto que serão implantadas em Goiás. Nessa modalidade as fêmeas são submetidas ao mesmo manejo, proporcionando paridade entre todas. A avaliação mais justa e segura entre fêmeas da mesma raça, idade, etc.

Portanto, EU continuo ACREDITANDO NAS LINHAGENS ALTERNATIVAS DO GIR!!!

Ramilton Javiktson da Silva Rosa
Estância Prisma – Edealina – GO.

Gir das Paineiras disse...

Ramilton, assino embaixo em tudo que escreveu e parabenizo o Rodrigo pelo grande texto que escreveu e por colocar um touro seu no TP da ABCGIL, isto mostra o inicio de uma era grandiosa para o Gir, primeiro a de união das duas vertentes, que é primordial para o crescimento da raça, unidos os criadores têm mais força no mercado do que desunidos e criticando uns aos outros como a mais de 50 anos fazem.

Outro aspecto possitivo é mostrar a todo Brasil as qualidades destas "novas" linhagens, mostrar que um animal pode ser bonito, raçudo e produtivo, permitir ao mercado escolher entre animais que aliam beleza e produtividade, porém isto só é possivel através de provas zootécnicas, nenhum produtor de leite irá escolher um touro apenas por ser bonito, e para isso a entrada de animais como os da Lapa Vermelha e do Bi são de suma importancia, serão testados junto com os das linhagens mais conhecidas.

Este texto do Rodrigo pelo menos a mim mostra o rumo que o Gir esta tomando, no futuro vejo animais produtivos e bem caracterizados, se prestarem atenção isto já esta mudando nas pistas de julgamento e leilões, animais mais refinados estão tendo mais destaque, haja visto o sucesso da fazenda Mutum através do gado 3R que alia leite sem perder em caracterização e dos filhos do Radar (com defeitos, mas melhor em caracterização que a maioria) em todas as pistas nas mais diversas exposições do país.

Abraços

Zé Eduardo Mello
Sítio Paineiras - Itapetininga/SP

prisma disse...

Muito obrigado, Zé Eduardo! A idéia é valorizar, num primeiro momento, indistintamente, as pessoas e os grupos, sem preconceitos. Depois dos conceitos definidos, que cada um faça as suas opções. Também concordo com grande parte do que escreveu. Exceção se faz em relação aos testes de progênie. Na minha opinião, no momento, um mesmo touro não deve participar dos dois testes. Respeitando, é claro, outras opiniões. Defendo ainda que os tourinhos testados pelo TP Girgoiás/Embrapa sejam oriundos ,exclusivamente, de plantéis de linhagens alternativas. Também acredito que haverá uma aproximação, porém, ela se dará apenas no campo do mercado. As filosofias dos dois grupos são muito distintas e mudanças culturais carecem de mais tempo para acontecerem. Gostaria de discutir essa questão dos testes noutra oportunidade, argumentando inclusive sobre a tese defendida por parte dos criadores de "Gir Leiteiro" de que tendo o TP da Girgoiás/Embrapa "base" diferente do TP ABCGil/Embrapa, seus resultados não são passíveis de comparação. Discordo de tal tese e
tenho argumentos para discutir a antítese. Abraços,

Ramilton Javiktson da Silva Rosa
Estância Prisma - Edealina - GO.