Aqui a raça é pura, sem mistura...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Artigo por Euclides Osvaldo Marques

São José do Rio Preto, 14 de Junho de 2010.

“SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES”


No mundo moderno e competitivo, existe uma organização não governamental chamada ISO ( International Organization for Standardization ), que está presente em 120 países e foi fundada em 1947 em Genebra. É sua função promover a normalização de produtos e serviços, utilizando-se de determinadas normas, para que a qualidade dos produtos seja sempre melhorada. No Brasil, o órgão que representa a ISO chama-se ABNT ( Associação Brasileira de Normas Técnicas ). A ISO é um modelo de padronização.

Contrariamente à expressão ISO, temos a expressão “Recall” que em português significa ”chamar de volta”. E o quer dizer “Recall”? Numa linguagem simples, eu diria que é: “Traga o seu bem ou produto de volta que ele saiu de fabrica com defeito e merece reparos ou substituição”.

Pois bem, o que os brasileiros mais lêem na imprensa, é que quase todas as montadoras de automóveis do mundo inteiro, estão chamando os compradores para que se apresentem e que façam o Recall de seu automóvel.

O que significa isto? Significa que por falta de controle de qualidade os produtos saíram com defeitos de fabricação e merecem ser reparados, sob pena de responsabilização civil e criminal. Um recall ou recolha de um produto, pode ser a devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos.

Só para se ter idéia, o Mcdonald’s anunciou recentemente o recall de 12 milhões de copos decorados com o personagem “Shrek”, porque a pintura do objeto possui “cádmio”, considerado cancerígeno pelas autoridades americanas e que implica em risco para a saúde humana. Para quem não sabe, o “cádmio” é um elemento químico de símbolo Cd de numero atômico 48 ( 48 prótons e 80 elétrons ).

Vendo no blog Gir-PO reportagem recente sobre os “Guardiões do Gir Leiteiro” pergunto: onde está o erro? É simples, falta de compromisso para com a raça, falta de qualificação do produto apresentado, enfim, o sentido de uma exposição é apresentar sempre os melhores animais e oferecer ao público visitante a evolução e o melhoramento genético de cada raça, devidamente certificados e vistoriados.

Os responsáveis pela organização, inscrição e recepção dos animais, têm a obrigação de orientar os expositores o que é permissível para adentrar em uma exposição. O engraçado disso tudo, é que a “Curiosa” (nome da vaca) entrou na festa sem estar trajada a rigor, participou de concursos e ainda foi destaque nas manchetes dos principais blogs. O fato não é incomum, afinal, até na Casa Branca um casal de penetras conseguiu adentrar uma festa do governo americano sem ser convidados e sequer foram barrados pelo sistema de segurança do presidente.

Penso que as principais exposições do país deveriam seguir o regulamento da Abcz, e fazer prevalecer todos os quesitos para a entrada dos animais, principalmente quanto às características raciais. Zebu tem que se enquadrar no quesito raça, e não fazer nenhuma concessão, é o mínimo que exposição que se preze deve fazê-lo. Uma raça quando é pura de origem não merece ser comparada com mestiços etiquetados com grife da raça Gir. É o mesmo que tomar um whiski falsificado do Paraguai ou portar um artesanato com griffe de luxo, porém, fabricado na China e vendido na Rua 25 de Março em São Paulo pelos camelos.

Agora o criador não tem culpa de nada e a vaca muito menos ainda, afinal, o seu propósito é produzir leite, e isso ela o fez muito bem, tanto que ganhou o torneio leiteiro. Querer enquadrá-la como sendo uma vaca padrão da raça é outra coisa completamente diferente. Qualquer juiz a desclassificaria como sendo um animal da raça Gir PO. O produtor de leite poderia até gostar de ter esse animal no seu plantel, afinal, ela agregaria valor à sua atividade, e mesmo tendo apenas “cheiro de gir”, para o produtor ela teria o seu justo valor pela alta produtividade.

Infelizmente esses fatos vêm se tornando repetitivos nas exposições do país, e quem perde é o gir brasileiro, que cada vez mais apresenta animais totalmente descaracterizados racialmente, sob a ótica de que o gir tem que “ter função.”Na minha opinião, primeiro o gir tem que ter raça, e a função quem dá é o criador de acordo com os seus interesses comerciais. Se é para leite, carne ou para se produzir um F1, quem define é o criador e ponto final. Agora se a Abcz e o Mapa entenderem que a função do Gir é produzir apenas leite, então é melhor refazer todo o regulamento quanto às características raciais e admitir qualquer animal com aparência de Gir como sendo o ideal para a raça.

Às vezes eu me pergunto qual seria a reação de um nelorista durante a expozebu de Uberaba, se de repente aparecesse nas pistas de julgamento um mestiço anelorado com RGD tatuado pela Abcz. O mais provável é que esse animal seria barrado na recepção dos animais pelos técnicos da Abcz. Então, porque somente com a raça gir vem se fazendo tantas concessões quanto ao aspecto racial?

Acredito que os expositores têm que ser mais prudentes quando forem participar de uma exposição e ler o regulamento, afinal, apresentar um animal que não se enquadra nos padrões de uma raça, e ver barrada a sua entrada, é desagradável para o criador e para a imagem do seu plantel.

Com relação à iniciativa do grupo “Guardiões do Gir Leiteiro”, é louvável no sentido de chamar a atenção dos abusos contínuos que vem ocorrendo, todavia, penso ser desnecessário o anonimato uma vez que qualquer criador que se sentir prejudicado tem o direito de fazer qualquer representação junto ao departamento técnico da Abcz e solicitar providencias e até punições para os responsáveis.

Portanto, nós criadores e selecionadores de GirPO, temos que dar a nossa contribuição no sentido de não só preservar a raça, como também, se possível dar um nível de excelência aos nossos produtos e por fim obter o atestado ISO 9001, e não ter que fazer “um recall” de um produto que não passou pelo controle de qualidade na sua fabricação ou na sua certificação.

Euclides Osvaldo Marques
Estância do Gir

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