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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mensagem aos Giristas

A história da raça Gir no Brasil embora recente (cerca de 100 anos) é extremamente rica e repleta de reviravoltas. Momentos de glória e supervalorização são quase que consorciados com outros de total marasmo econômico. 

Uma raça que uma hora foi utilizada na pecuária de corte, hoje se destaca pela aptidão leiteira, que sem sombra de dúvida é seu maior dom. Independente da época ou do método seletivo, o Girista sempre foi apaixonado e algumas vezes romântico, e isso trouxe muita divergência e disputa. 

Há alguns anos, uma disputa de interesses similar à hoje vivida deu origem à primeira divisão da raça. A falta de coesão em julgamentos que priorizavam por demais a caracterização racial e pouco as qualidades produtivas obrigou alguns criadores a lutarem pelo direito de defender a produtividade. A luta foi de tamanha relevância que criou certa antipatia no que se refere às características raciais, que passaram a ser vistas como inimigas da produtividade. 

Pois bem, hoje, graças ao empenho e a competência do grupo de criadores que criou a ABCGIL existem vários touros provados e matrizes de alta performance, cujas famílias o mercado abraçou. 

Ocorre que a vertente Gir Leiteiro chegou ao seu primeiro entrave. Obstáculo este que é fácil de ser superado se deixarmos de lado o orgulho e o revanchismo. Trata-se da perda em caracterização racial que a busca sistemática pela produção trouxe como conseqüência. 

E o recente “arrocho” que a ABCZ deu nos técnicos de registro trouxe esse fato à tona, o que não foi iniciativa dos criadores de “Gir Padrão” (nomenclatura infeliz, pois se existe um Gir para a ABCZ, todo Gir registrado é em teoria padrão). É uma preocupação do corpo técnico da ABCZ que deve zelar pela raça independente do interesse individual ou da euforia de momento. 

Carlos Henrique Cavallari Machado, Carlos Humberto Lucas, Leonardo Machado Borges e Marcos Brandão Dias Ferreira são os técnicos lá presentes, são eles responsáveis por avaliar toda e qualquer proposta que venha de encontro ao futuro do Gir (e foram chamados de “Padrãozeiros” por alguns, o que não procede). Também estão lá representantes dos criadores que a meu ver são homens de mais alto gabarito: João Machado Prata Junior, José Luis Junqueira Barros, José Sab Neto e Sílvio Queiroz Pinheiro. Tudo isso mostra que seria impossível passar propostas descabidas, como não ocorreu. 

O momento atual é de se pensar no futuro, vejo cada dia mais nítido que o equilíbrio é a grande virtude, não adianta termos animais extremamente produtivos, mas que não se encaixam no padrão racial, menos ainda serve o contrário. E não é solução flexibilizar! Se a caracterização não tiver seu devido valor, em breve chegaremos no “vale quanto pesa” (o balde) e isso não é bom! Todas as raças do mundo dão o devido valor aos animais que mais se assemelham com a perfeição racial, desde que atendam integralmente as necessidades produtivas. 

Tenho acompanhado as exposições de Gir Leiteiro e percebo uma grande melhora na qualidade racial dos animais expostos e muitos compartilham dessa idéia, mas não tenho percebido a mesma preocupação dos jurados, que sempre enaltecem as características produtivas sem sequer mencionar as características raciais. 

Não sou defensor de Gir selecionado para beleza, acho totalmente descabido de sentido e procuro selecionar produtividade leiteira, mas não vejo dificuldade em conciliar função e raça, elas não são qualidades antagônicas. 

Fico profundamente chateado quando vejo este clima de disputa entre as associações representantes do Gir junto a ABCZ (ASSOGIR e ABCGIL), e me vejo em péssima situação, pois nenhum lado é dono da verdade absoluta. Não faz sentido duas associações com interesses tão similares andarem sempre em sentido contrário. Por que não pode haver dialogo? Acho que os traumas das recorrentes brigas do passado não permitem, mas isso é reversível. 

Talvez por ser jovem, e não ter presenciado os embates que causaram tamanho desgaste, tenho facilidade em aceitar a união tão facilmente. Tenho como obrigação por representar duas seleções, que juntas somam mais de 120 anos de seleção, defender o Gir, sem me preocupar com qual adjetivo. 

Estou fazendo o dever de casa: utilizando o controle leiteiro oficial, participando de exposições e concursos leiteiros, e ainda inscrevendo touros em provas zootécnicas. Sou sócio da ABCGIL, da Assogir, da GirGoias, pretendo ingressar à AMCGIL e estou buscando colaborar com o Gir Leiteiro colocando à disposição nossa genética, agora provada. No meu caminho não quero prejudicar ninguém e as idéias que defendo estão livres de proselitismo. 

Entretanto, o atual momento pede cautela e tenho certeza que a proposta segregação só traria o mal. Não só isso, também não faria o menor sentido: 

Veja o Radar dos Poções. Touro que geneticamente une as duas vertentes; seu pai vem da antiga seleção de Francisco Barreto (FB) sempre direcionada para leite, e sua mãe, traz em seu pedigree a seleção de Celso Garcia Cid, que na verdade é toda POI, oriunda da seleção indiana de Bhavnagar. 

Ou veja Nogueira do Fundão, doadora que foi grande Campeã do Gir Leiteiro (Megaleite) e é totalmente fechada em linhagens que são consideradas “padrão”. Mais importante ainda é a lição que ela nos deixa, pois acasalada com touros provados fez várias fêmeas de valor, entre elas Virna do Fundão, grande campeã em várias exposições, provando que o equilibro já está mostrando que de fato é o dono da virtude. 

E não são só estes exemplares, temos vários exemplos desta combinação poderosa, vide o Gir da Fazenda Mutum, que resgatou a linhagem 3R e combinou com as linhagens provadas fazendo um gado que ganha tudo. 

Vamos aproveitar o momento, que é inédito, para estabelecer de uma vez por todas o Gir como principal raça zebuína para leite e preservar o padrão racial tão importante para todos, por todas suas atribuições e sua versatilidade. 

Portanto sugiro união e diálogo, tenho certeza que podemos mais juntos. E se levarmos em conta a realidade, quase todos nós buscamos os mesmos objetivos. 

Este é o meu pensamento destituído de qualquer interesse particular. 

Obrigado, 

Rodrigo Rezende Simões

2 comentários:

João Bosco disse...

Concordo totalmente com suas palavras, porque não adianta em nada ter animais lindos que se gasta uma fortuna para produzir e vender a preço de gado de curral. A união faz a força, um Gir unido e bom em todos os aspectos (leite, carne e beleza).

João Bosco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.