Aqui a raça é pura, sem mistura...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Por Ramilton Javiktson

♦ O blog Girbrasil publicou recentemente, o artigo intitulado “O GIR LEITEIRO “PURO” UMA REALIDADE NA AMÉRICA LATINA” de autoria do Dr. Ivan Ledic.

Gostaria de aproveitar a oportunidade para discutir alguns temas ali tratados, bem como outros assuntos que me parecem pertinentes. Antecipadamente, peço desculpas pelas limitações “técnicas” e gramaticais.

O GIR PURO “LEITEIRO” – UM SONHO QUE SE CONCRETIZA.

O principal propósito deste texto é apresentar argumentação e informações, com a intenção única e exclusivamente de enriquecer o debate que envolve o mundo do GIR.

▪ O Dr. Ivan diz “ A raça Gir possui funções bem definidas e distintas, para leite ou para carne”.

▪ Concordo! Inclusive, entendo que, a rigor, o termo “dupla aptidão” não se aplica aos animais de qualquer raça “pura de origem”. Existem indivíduos que apresentam a chamada “dupla aptidão”, mas representam muito pouco em termos percentuais, não justificando referida denominação.

- Animais de “duplo propósito” são, na minha opinião, os mestiços ½ (zebu/taurino), pesados e capazes de produzir, em regime de pasto, quantidades satisfatórias de leite. “O Brasil” produz e sempre produzirá leite oriundo, principalmente, de vacas Girolandas (maioria do rebanho), nos seus diversos graus de sangue.

- Dizem que o “Brasil” vai produzir leite de vacas Gir, a baixo custo. O leite produzido pelas vacas gir, realmente é de baixo custo. E o custo desses animais?

- O Gir sempre contribuiu com a produção de leite no Brasil e continuará contribuindo, como raça formadora do “Girolando”, que é e sempre será a raça (e suas derivações) adequada para a produção de leite nos “trópicos”.

▪ Dois grupos distintos de criadores de Gir se formaram nas últimas décadas, no Brasil. Um, que desenvolveu a aptidão leiteira que a raça Gir possui (Gir Leiteiro) e outro que valorizou as características raciais, dentro de um padrão estabelecido para a raça “Gir Padrão”.

1 - O primeiro grupo, se organizou em associação (ABCGil) e com objetivos bem definidos e de interesses comuns, desenvolveram projetos e os executaram (e ainda executam) com sucesso. Houve um grande ganho de produtividade. Em contrapartida, as características raciais estabelecidas (regulamento ABCZ) se perderam, resultando em animais fora do padrão racial desejado (parte dos animais). Existem vários animais “Gir Leiteiro” bem caracterizados e que se enquadram perfeitamente dentro do padrão racial.

2 - O segundo, formado em parte por criadores / selecionadores “excêntricos” (décadas de 60, 70 e 80), “fecharam” seus planteis e, individualmente, desenvolveram suas seleções, priorizando a caracterização racial, dentro da visão de cada um. Como resultados desses trabalhos, podemos observar:

a – Que, diante da inevitável consangüinidade, alguns criadores formam “linhagens”, com indivíduos mais “ homogêneos” fenotipicamente. Exemplos: Eva, Krishna, “R” , Bey, etc. e, conseqüentemente, perderam o vigor híbrido e a “explosão de produtividade” de alguns indivíduos (parte), preservando outros, ainda muito produtivos;

b - Outros criadores/selecionadores, utilizando-se dessa “genética”, através do uso de reprodutores advindos desses plantéis, entre outros, promoveram a infusão de sangue dos “puros – consangüíneos – extratos” em seus rebanhos, resultando, via de regra, em animais mais produtivos (leite e ou carne) ou com muita beleza racial. Existem, nesse grupo, animais que são pouco produtivos e outros que estão fora dos padrões raciais.

c – Mesmo que involuntariamente, surgiram (nos dois casos “a” e “b”) animais com excelente potencial leiteiro. E, por razões já explicitadas pelo DR. IVAN LEDIC, foram, parcialmente, descartados (principalmente fêmeas) daqueles rebanhos.

d – Nos dias atuais, ainda existem em plantéis de “Gir Padrão” (vários) animais com grande potencial leiteiro.

▪ A Girgoiás, que tem como associados criadores/selecionadores de “Gir Padrão” e “Gir Leiteiro”, desenvolve um Teste de Progênie juntamente com a Embrapa/Assogir, com a finalidade principal de testar novas linhagens, com o intuito de aumentar a base genética da raça Gir (com provas zootécnicas). O resultado da avaliação do grupo “1” será divulgado em 2.011. A maioria dos tourinhos submetidos a esse Teste de Progênie, são oriundos de criatórios de “Gir Padrão” e já mostram resultados satisfatórios.

– Vários criadores de “Gir Padrão”, estão identificando seus animais que se destacam com maior produção de leite, através de controle leiteiro (oficial e de fazenda) e multiplicando-os, utilizando-se de técnicas de reprodução como TE e FIV. Para citar alguns exemplos: Fazenda Santa Clara – Bela Vista – GO; Fazenda Lapa Vermelha – Pedro Leopoldo – MG; Fazenda Café Velho – Cravinhos – SP; Fazenda Nossa Senhora das Graças – Indiara – GO; Fazenda Iporê – Goiânia – GO; Fazenda Coqueiral – Passos – MG; Fazenda Santo Antônio – Bela Vista – GO; Estância Ariramba – Itaberaí – GO; Fazenda Fantasia – Uruana – GO; Estância Prisma – Edealina – GO; citando apenas aqueles que conheço os resultados, dentre várias outros. Todos com resultados satisfatórios (parte do rebanho, é claro).

- Diante dos resultados apresentados pelo controle leiteiro nessas propriedades (vacas com produções diárias superando 35KG/dia e lactações encerradas, ultrapassando 8.000KG/leite) podemos afirmar que o sonho de criar GIR “puro” com boa produção leiteira já é uma realidade e caminha a passos largos.

▪ Conheço animais 7/8 de sangue que foram aceitos para registro em caderneta (LA) pela ABCZ, por (supostamente) possuírem as características mínimas exigidas para o enquadramento na raça Gir e que depois de 02 gerações resultaram em Gir “PO” (intervalo de 06 anos). Alguns dos grandes criatórios de “Gir Leiteiro” ainda mantém animais “LA”. Isso não significa, necessariamente, que são formados por absorção ou, tão pouco, sejam animais inferiores aos da categoria “PO”. Porém, afirmar que não existe a possibilidade de infusão de sangue de outras raças, alegando a auditoria (acompanhamento) feita pela ABCZ, não é seguro.

▪ Se considerarmos que todos os animais importados da Índia eram “puros“ e enquadrados no padrão da raça, a possibilidade de cruzamento e ou infusão de sangue de outras raças, vale tanto para o “Gir Leiteiro” quanto para o “Gir Padrão”, mesmo que em menor escala.

- Podemos encontrar vários animais “PO” que possuem, no mínimo, duas características morfológicas fora do padrão da raça, principalmente no “Gir Leiteiro”, mas também no “Gir Padrão”. As mais comuns são: Orelhas, chifres, giba e umbigo.

Pergunto:

O que vale mais: um animal “LA”, produtivo e enquadrado dentro dos padrões raciais ou outro “PO” que não apresenta nenhuma das qualidades acima?.

- Porém, se considerarmos que nem todos os animais importados eram “puros”, chegaremos a outras conclusões:

1 - Que parte dos animais, principalmente os reprodutores, que se destacaram pela maior capacidade de transmitir características leiteiras e outras funções afins, podiam ser “POI mestiços”. Sabemos que nem todos os animais importados da Índia saíram dos palácios. Fora dos palácios, conviviam animais de várias raças puras e principalmente mestiços. Isso é perfeitamente possível!

2 – Que os animais utilizados para a formação do “Gir Padrão” foram aqueles que apresentaram maior capacidade de transmitir as características raciais do GIR. No entanto, parte desses animais, também transmitiam características leiteiras.

3 – Que os criadores de “Gir Leiteiro”, há décadas, selecionaram os melhores exemplares para a produção de leite e outras funções econômicas desejadas pelos mesmos, independentemente da caracterização racial.

– Considerando o número limitado de reprodutores (aproximadamente 10) utilizados como base para a formação desses rebanhos, formou-se animais produtivos, a exemplo dos seus ancestrais e por conseqüência, algumas famílias com características raciais fora do padrão (desejável) da raça (uma parte).

▪ De acordo com o regulamento da ABCZ, não são passíveis de registro os animais que possuem cor branca (na totalidade do corpo – ponto final).

Dentre as fêmeas avaliadas na Estância Prisma – Edealina – GO, destacou-se uma vaca de pelagem clara (branca) crioula do plantel de ENE SAB, produzindo 36,7 KG leite/dia. Várias outras fêmeas e outros tantos machos, especialmente oriundos do criatório do Dr. Evaristo de Paula (Marca EVA) possuíram e possuem cor branca. A contribuição desse plantel para a formação do “Gir Padrão”, “Gir Leiteiro” e Girolando, no Brasil é INESTIMÁVEL. Além dos herdeiros e sucessores do Dr. Evaristo, outro criatório do estado de São Paulo privilegia a linhagem “EVA” e também muito contribui com a raça Gir e Girolando.

Diante dessa realidade pergunto:

1 - Será que podemos, neste momento, abrir mão de animais com esse perfil e principalmente com essa importância?

2 – Se um dos grandes gargalos da seleção de Gir, em dias atuais, é a endogamia, vale a pena dispensar esses animais?

3 – Quais são, de fato, as conseqüências maléficas causadas por animais desse grupo?
Não conheço nenhum animal que tenha apresentado qualquer tipo de problema, unicamente decorrente da sua cor.

4 - Existem touros que possuem prova excelente, figurando entre os primeiros no ranking da ABCGil e sendo pais de várias filhas premiadas, e de fato superiores. Esses touros estariam fora dos padrões raciais em razão de suas pelagens (cor branca com placas de despigmentação) ?

▪ Outro assunto pertinente, (Que não foi tratado diretamente no artigo do Dr. Ivan), são os índices alcançados pala raça “Gir Leiteiro” nos controles leiteiros oficiais. Aqui, gostaria apenas de deixar uma questão aos prováveis leitores deste texto, especialmente aos criadores de Girolando, bem como aos criadores de Gir que também criam ou criaram Girolando:

- Em toda a sua experiência na pecuária leiteira, quantos tourinhos da raça Holandesa você possuiu ou possui, cuja lactação da mãe era ou é superior a 18.000 KG?

- O “Gir Leiteiro” está dando OLÉ até nas raças especializadas para leite!!!

▪ As “provocações” que faço ao “Gir Padrão” e ao “Gir Leiteiro” não são conflitantes entre si e nem têm o intuito de atingir nenhum colega ou criatório específico. Os exemplos citados são apenas para dar clareza às questões propostas.

▪ Posso afirmar aos leitores que nem todos os criadores de “Gir Padrão” têm a mesma opinião em relação à possível “mestiçagem” do “Gir Leiteiro”. Faço parte de um grupo de criadores que respeita a opção dos criadores de “Gir Leiteiro”. No meu caso, especialmente, sou criador de “Gir Leiteiro” desde o início do meu criatório. Não utilizamos disso de forma apelativa. Apenas, acreditamos ser possível explorar a aptidão leiteira (natural) do Gir, preservando suas características raciais, que o distingue das demais raças zebuínas.

▪ Se “ O GIR DEVE SER MANTIDO COMO GIR DENTRO DA VISÃO DA RAÇA ‘PURA’ EM TERMOS DE INVENTÁRIOS DE PEDIGREES”, (apenas) e as regras (regulamento ABCZ) que são objetivas, com parâmetros definidos, não são respeitadas (análise técnica subjetiva), talvez as mesmas não sejam necessárias. Assim, teríamos apenas “ Zebu Leiteiro”.

▪ Esclareço que sou um pequeno criador de gado das raças GIR e Girolando. Crio e seleciono poucos exemplares do que é considerado “Gir Leiteiro” e outro pouco de “Gir Padrão” (dois deles integram a 2ª e 4ª baterias de touros em Teste de Progênie da Girgoiás/Embrapa/Assogir). Portanto, sou criador de GIR, com foco principal na produção de leite e muito preferencialmente de animais com boa caracterização racial.

Não tenho “partido” e não defendo nenhuma “agremiação” (de Gir). O ideal é que formássemos um só time, lutando pelos mesmos ideais.

Todo o conteúdo desse texto, representa apenas a minha opinião.

Abraços a todos os colegas giristas,

Ramilton Javiktson da Silva Rosa
Estância Prisma – Edealina – GO

Um comentário:

Unknown disse...

Rodrigo boa noite! Meu e-mail é jriachuelo@hotmail.com Aguardo fotografias para essa segunda feira.
abraço, JK.