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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Como fazer um ótimo Girolando meio-sangue


* Homero Gontijo Morais Filho

O título deste artigo não tem a menor intenção de soar pretensioso, nem eu como autor, de me posicionar como um professor, mas foi com grande honra que recebi um convite do editor desta revista para tecer algumas considerações a respeito da criação de bezerras Girolando ½, assunto do qual tenho a experiência de um curso incompleto de veterinária na UFMG e a vivência de alguns anos criando e observando o gado. Peço ao leitor que considere meus comentários como simples observações de curral, sem quaisquer embasamentos teóricos ou acadêmicos, feitas a partir de aproximadamente 4.000 partos de Girolando ½ que presenciei em minha propriedade, base esta que considero um parâmetro razoável.

Pois bem, o fator que considero primordial, ao se observar um lote animais Girolando 1/2 é a padronização, esta aliás, difícil de ser atingida, por se tratar de um cruzamento de animais de raças totalmente distintas (heterose máxima) e de variadas linhagens. Em termos gerais, no quesito pelagem, o mercado aceita mais as fêmeas pretas, as bargadas, as gargantilhas (angolinhas) e as mamonas (chitadas). As várias nuances de pelagem do Gir permitem uma combinação de 73 tipos de pelagem possíveis, existindo portanto uma grande “margem de erro”. Observei que touros holandeses pretos em vacas Gir claras e touros holandeses brancos ou pintados em vacas Gir vermelhas tendem a padronizar mais nas bezerras as pelagens desejadas, o que não é regra, considerando-se é claro o fato de que vacas claras podem ser filhas de vermelhas e vice-versa, o que influi muito no resultado. Para aumentar ao máximo a padronização, uso sempre um touro preto e um mais claro, da forma descrita. Quanto mais touros, mais despadronização. Animais zebus amarelados ou acinzentados não são aceitos, sinal de que a vaca não é tão Gir. Quanto mais pura a vaca Gir, melhor será a filha ½ sangue. Posso afirmar também, curiosamente, que quando se usa um touro Gir em vacas holandesas, aumenta a variação das pelagens nas irmãs ½ sangue, e a porcentagem de fêmeas castanhas, em média.

Seleção de gado não é regra nem matemática, e em Zootecnia 2 + 2 pode não ser 4, mas sim 2, ou 22, como diria um sábio criador antigo. Aliás, sem querer ser romântico, ainda existem na seleção pecuária circunstâncias regidas pela mãe natureza que a ciência não pode mensurar ou interferir.

Minha experiência acadêmica diz que não há diferença entre usar boi europeu com vaca zebu ou boi zebu com vaca européia, o resultado seria o mesmo, pressupondo que ambos são puros, mas não foi isso que observei. Será que novamente os antigos sábios têm razão quando dizem que “o boi domina a vaca?” As filhas de touro Holandês parecem europeizadas, e as de boi Gir, azebuadas, apesar de serem ambas ½ sangue. Isto seria uma vantagem do uso do touro Holandês, uma vez que se busca fêmeas com tipo para leite?

Outro fator importante é a facilidade de parto. Por se tratar de cruzamento (os animais nascem mais vigorosos) é imprescindível usar touros holandeses com alta facilidade de parto. Outra observação: filhos de touros Gir em vacas holandesas nascem maiores que os filhos de touro Holandês em vaca Gir. Isto seria pela seleção por facilidade de parto que já temos no touro Holandês, e que inexiste no touro Gir, ou mais uma particularidade desconhecida? Bezerros Gir puros nascem sabidamente menores.

Outra preferência do mercado é pelas fêmeas com forma leiteira acentuada(boas de costelas , angulosas, pescoço feminino, paletas delicadas, ancas robustas) item presente nos lineares dos catálogos dos touros holandeses com alguma confiabilidade, e ausente nos Gir, pela ausência de provas com grandes volumes de testes e confiabilidade. Seria mais uma facilidade para trabalhar com touro Holandês?

O mercado prefere também as fêmeas com tetas pretas, em detrimento das fêmeas de tetas claras, sob o argumento de que a sanidade do sistema mamário destes animais é melhor. Na faculdade aprendi que isto não existe, simplesmente a cor negra mascara visualmente a aparência suja das tetas que pode ser facilmente verificada nas claras. Quem tem razão?

Um defeito que o mercado não perdoa é o temperamento ruim, motivado claramente pela dificuldade de se manejar uma vaca de leite brava. Animais que “lançam as orelhas”, “jogam o rabo no lombo”, ou trombam em porteiras são indesejáveis. Neste quesito, mais importante que a genética é o manejo do criador, desde a primeira mamada da bezerrinha, com jeito e calma, acostumando-a ás pessoas, ás cordas e ao movimento no curral. Bezerras soltas no pasto com as mães ficam inegavelmente mais difíceis, e isto pode definir um negócio.

Observando-se as características relatadas, trabalhando com touros holandeses bons de tipo(isso faz diferença) e com leite mediano a alto, aumenta a margem de acerto. Não posso afirmar que filhas de touros top são sempre melhores do que filhas de touros mais “populares”. Será que a heterose dilui a genética e aproxima os animais, em virtude do choque? Deve ser observada, portanto, a viabilidade econômica de se usar sêmen caro. O adicional de leite do touro observado isoladamente não traz bons resultados. O animal é um conjunto complexo, e não um úbere ambulante. Se pudermos usar um touro com leite alto, bom tipo e uma vaca com família leiteira conhecida, seria ótimo, embora eu possa afirmar que a boa performance leiteira do Girolando vem do Holandês, e não do Gir. É curioso observar hoje inúmeras propagandas de vacas Gir com lactações de Holandesa ou até maiores. Pergunto: Quanto seria o leite de uma ½ sangue filha dessas vacas? Faz sentido uma vaca Gir dar mais leite que uma filha ½ sangue holandêsa?

Finalizando, o que não se deve fazer jamais é trabalhar com touros fracos, “bois de boiada”, Gir ou Holandês, bem como com vacas que não sejam puras e boas mães, perdendo-se todo o vigor híbrido, resultando em um ½ sangue fraco, que não trará qualquer resultado a seu proprietário. Origem e credibilidade são muito importantes nesse mercado.

*O autor é criador de Gir e Girolando ½ em Dores do Indaiá e Luz - MG. Contato pelo site www.indaya.com.br ou e-mail: homero@indaya.com.br

Créditos: Publicado na revista Gir online, ano 7, número 29 dezembro-2007

Um comentário:

Rodrigo Simões disse...

Parabéns Homero, excelente artigo. E com a propriedade de um grande criador de Gir e Girolando!