Texto escrito por Geraldo França Simões (in memoriam), em maio de 1987. Este, foi discutido em uma reunião de criadores..Geraldo França Simões
(1908-1996)
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Criador da marca Bey, iniciou a criação da raça Gir em 1940
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Faleceu há 13 anos, mas seus herdeiros seguem com a seleção do gado, na Fazenda Lapa Vermelha - Pedro Leopoldo/MG."O trabalho realizado pelos criadores que nos antecederam, é muito mais importante do que tudo quanto possamos dizer e discutir nesta, ou noutras reuniões semelhantes.
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Os primeiro importadores, que foram às Índias, sentiram-se naturalmente confusos diante do número de raças ali existentes e que viam pela primeira vez. Se eles nada entendiam, muito menos os fazendeiros e eventuais compradores que aqui ficaram.
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Deste modo, sem conhecimentos, sem guias, sem antecedentes a observar, conseguiram baseados apenas na intuição, no bom senso, nos deixar uma herança inestimável em tempo recorde. Preservá-la é nosso dever. Aprimorá-la é a nossa dificuldade.
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Nesta parte inicial o rebanho Gir brasileiro esteve alicerçado em torno de genearcas, que não guardavam entre si nenhuma semelhança. Estamos nos referindo, como é de consenso geral, aos touros GAIOLÃO, GANDHI, MAXIXE (o melhor representante de Rajá) e BESOURO (igualmente, o melhor representante, também, o melhor filho de Lobisomem). Se estes animais nada tinham em comum, só poderiam, deixar uma descendência heterogênea.
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Ai está porque a variedade do gosto dos criadores. Grande tem sido o trabalho para harmonizar as principais qualidades de cada linhagem. Assim como é grande a luta para se saber qual a linhagem vencedora no confronto que veio a se estabelecer.
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Atribui-se ao MAXIXE a primasia incontestável na transmissão do caráter leiteiro, regular caracterização, animais de grande porte, mas deficientes de cupim.
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Ao touro LOBISOMEM deve-se uma boa morfologia, entretanto, com chifrada hoje considerada obsoleta. Seu descendente principal acreditamos ser TURBANTE, quem mais se salientou em periodo curto, mas de bom resultado financeiro.
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Os grandes caracterizadores da raça foram sem duvida o GAIOLÃO E O GANDHI; o primeiro deles sempre viveu no estado de São Paulo, a princípio na região de Casa Branca, cobrindo vacas leiteiras. Ali o buscaram giristas de franca que foram os que mais se beneficiaram de seu generoso sangue. À frente deles encontrava-se Nilo Lemos, que estendeu sua influencia na zona mineira limítrofe de São Paulo, através de seus irmãos Pedro, Paulo, Alvim Lemos, que à exceção de Paulo, vivam todos em passos, Sudeste de Minas Gerais. Do cruzamento do Gaiolão com os filhos de Maxixe, resultaram bons produtos de porte e ótima aptidão leiteira. Foram estes animais que o Dr. Epitácio Pessoa Sobrinho, sem dúvida alguma, o precursor da seleção Gir leiteira no Brasil, iniciou seu trabalho pioneiro, hoje com grande número de adeptos.
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Recentemente, um homem excepcional, Celso Garcia, vencendo obstáculos de toda sorte, emprestou com brilho de sua inteligência, um novo concurso à pecuária brasileira. A primeira festa do Gir, em 1976, contou com a presença de animais descendentes de sua importação, e comprovou sua eficiência. Animais grandes e sobretudo com propensão leiteira e bela conformação de úbere.
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Devemos agora nos referir ao genearca GANDHI. Pensamos caber a ele maior parcela de sucesso na seleção do Gir brasileiro. Animal de ascendência nobre, esbelta, de elegante postura, pontua até hoje na liderança de animais finos. A sua grande qualidade prolífera torna o cio das vacas muito próximo do parto, tornando pequeno o período de lactação de seus filhos. Acreditamos que este problema seja facilmente resolvido com cruzamentos desejáveis. E mais ainda, seria recomendável que, assim como existem em outras raças, limites de mensuração (altura máxima e mínima), na nossa modesta opinião o mesmo deveria ser adotado na raça Gir, evitando-se deste modo, os exageros nos dois sentidos.
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Mas a fase áurea do Gir entrou em colapso, advindo o desânimo em muitos criadores, dada a falta de resposta aos pesados investimentos necessários a este trabalho.
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É o que os concorrentes, favorecidos por fatores diversos, tais como a entrada de animais excepcionais da raça Nelore, notadamente um reprodutor impar, elevaram o modo repentino a seleção desta raça a níveis superiores a qualquer previsão.
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Passou a ser fundamental para qualquer de financiamento, a escolha de reprodutores dessa raça, numa prioridade normal, dado os sucessos das provas de ganho de peso. Os técnicos recomendaram a sua utilização em massa nos grandes projetos de abertura de pastagens nas novas regiões do Pará, Amazonas, Mato Grosso, Goiás, etc.
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Mas veio a reação do Gir, apresentando o binômio carne e leite, hoje interpretado como mais leite do que carne. Os selecionadores do Gir leiteiro procuram melhorar, cada vez mais, a sua produtividade, de vez que o futuro da raça é promissor.
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Nas suas inigualáveis qualidades de mansidão, longevidade, boa índole e ainda sua melhor capacidade de adaptação a qualquer tipo de pastagem. O seu moderado consumo de alimentos, torna o Gado gir insubstituível para a produção barata de alimentos.
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Cumpre ainda salientarmos as qualidades essenciais, como o bom aproveitamento da carcaça, a ótima qualidade da carne, a incomparável qualidade para cruzamentos fazendo com que o Girolando seja o responsável pela produção de 2/3 do leite obtido na zona tropical do país. Seria também conveniente acentuarmos o seu futuro para a pequena propriedade, sendo certo que é possível obter-se uma renda razoável com a dupla; leite e carne.
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Julgamos, porém, que está a vista de todos atentos ao problema que está sendo desvirtuada a seleção do Gir leiteiro, que se apresenta. No momento, com animais de péssima caracterização racial, reduzida estatura, com pelagem suspeita. Assemelham-se mais ao meio sangue Zebu, do que a raça Gir.
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Este é o nosso pensamento destituído de qualquer interesse particular, sem a menor idéia de querer fazer proselitismo".
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GERALDO FRANÇA SIMÕES