O vocábulo – ZEBU – embora consagrado nos dicionários e enciclopédias ingleses, é muito pouco empregado pelos britânicos ao se referirem ao “Bos Indicus”. Preferem a locução – “Indian Cattle”-.
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O norte americano emprega para o mesmo fim a palavra BRAHMAN, que se nos afigura um neologismo impróprio. “Brahman” ou “Brahmanini” é a denominação dispensada ao boi sagrado dos templos, consagrados à memória do boi Nandi, símbolo da fecundidade na religião hindu, pelo que se reverencia a Shiva, uma das pessoas do “trimurti”.
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A etimologia da palavra ZEBU nos parece ser genuinamente portuguesa, pois portugueses foram os primeiros europeus que, na época dos descobrimentos, privaram com os hindus e se instalaram em diversos pontos das costas do Malabar, a oeste, e das costas do Corumandel a leste, desde o expirar do século XV.
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Depois é que vieram os ingleses.
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Assim não nos antolha descabido afirmar aqui ser a palavra ZEBU derivada de “geba” que, em bom português, quer dizer corcova e é também grafada “giba”. Desta palavra se derivou o têrmo com que os antigos escritores portugueses do século XVI, designavam o boi da Índia a que apelidaram de “GEBO”, uma espécie de aglutinação de “boi de geba”. De “GEBO”a “ZEBU” o salto foi pequeno.
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Assim, cônscios de estarmos em trilha certa, adotaremos a palavra ZEBU as mais diversas das vezes em que tivermos de nos referir ao “Bos indicus”, seguros de estarmos empregando o termo bem português.
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O ZEBU dos nossos dias , o “Bos indicus” da zoologia, tem a sua origem oculta nas brumas da história da terra, ou antes, na pré-história.
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Cientistas, pesquisadores, paleontologistas, arqueólogos, enfim, todos os que se dedicaram a indagações sobre a sua origem, fazem-nos saber que o “Bos indicus” provém de três ramos diferentes da família dos bovídeos selvagens que, há dezenas de milhares de séculos, habitaram o centro do continente asiático e depois as ilhas dos arquipélagos do Oceano Índico, a Australásia, também chamada Indonésia.
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Os três ramos em apreço são: “Bibus gaurus”, existentes em Burma e Malásia; “Bibus frontalis”, do centro do continente asiático e, o “Bibus sondaicus” ou “banting”, dos Arquipélagos do Índico.
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Do “Bibus gaurus”, julga-se descenderem as raças de cabeça fina e comprida (os zebus dilicocéfalos), tais como o gado branco-cinza do norte, em seus dois ramos principais, e o gado Misore. Houve talvez, mestiçagem com o “Bibus frontalis”, nesta formação.
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Do “Bibus sondaicus”, talvez em mestiçagem longínqua com o “Bibus gaurus” parece descender o GIR.
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Até hoje se encontra nas selvas de Assam e Burma, o “gaol” que é o descendente direto do “Bibus gaurus”. Em Java, Sumatra e outras ilhas da Indonésia ainda restam epécimes do “banting”. São de uma cor negra ou castanha quase negra, com uma malha branca na anca, assim como brancas são as extremidades dos membros. Têm as cabeças pretuberantes e abauladas, com chifres achatados na base e mais ou menos triangulares, saindo para baixo e longo se erguendo para cima e para frente. São animais de grande porte.
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O que está fora de dúvida é que o ZEBU existe há muitos séculos, antes de Cristo, em estado de domesticidade, não só na Índia como na Indonésia e, principalmente, no planalto central asiático, compreendido entre o antigo rio Oxul, hoje denominado Amu-Daria, ao norte, até as águas do Mar Arábico ao sul; desde o Pamir, nos contrafortes nortes da cordilheira do Himalaia até às margens do Eufrates, na Mesopotâmia.
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Neste imenso planalto é que o ariano criava o ZEBU, com que, mais tarde, povoou os campos da Índia.
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Alexandre Barbosa da Silva, O Zebu na Índia e no Brasil, Rio de Janeiro, 1947